Se tiver uma consulta com uma Nutricionista Funcional de certeza absoluta que sairá com uma série de pedidos de análises bioquímicas. Mas uma, em especial, garanto que não faltará na lista: a vitamina D.
A atenção dos profissionais a esta vitamina - que na verdade não é bem uma vitamina, mas sim uma pré-hormona (1) – tem vindo a aumentar à medida que mais estudos científicos são feitos sobre seu papel na saúde e prevenção de doenças.
Estudos epidemiológicos têm constatado que uma expressiva parcela da população mundial apresenta baixos níveis séricos de vitamina D. Alguns países chegam a apresentar taxas de deficiência de vitamina D superiores a 50%, como observado no Brasil, Dinamarca e Alemanha (4).
Mas afinal o que é vitamina D e quais as suas funções?
A vitamina D (também conhecida como “calciferol”) é uma vitamina lipossolúvel que está naturalmente presente em alguns alimentos, podendo também ser obtida através da suplementação. Esta vitamina é também produzida endogenamente quando os raios ultravioleta (UV) da luz solar atingem a pele e desencadeiam a sua síntese.
A vitamina D obtida da exposição solar, dos alimentos e suplementos é biologicamente inerte e precisa de passar por duas hidroxilações no corpo para ser ativada. Fontes alimentares e de suplementação de vitamina D apresentam duas formas principais, a D2 (ergocalciferol) e D3 (colecalciferol), que diferem quimicamente apenas nas suas estruturas de cadeia lateral, sendo ambas bem absorvidas no intestino delgado.
A ingestão de vitamina D contribui para a normal absorção/utilização do cálcio e do fósforo e para os níveis normais de cálcio no sangue. Contribui ainda para a manutenção do normal funcionamento muscular, ossos e dentes normais, para o normal funcionamento do sistema imunitário e para o processo de divisão celular.
Níveis adequados de Vitamina D previnem o raquitismo em crianças e a osteomalacia em adultos. Juntamente com o cálcio, a vitamina D também ajuda a proteger os idosos da osteoporose.
A vitamina D no desenvolvimento de doenças crónicas
1. Vitamina D e a Depressão
Os índices de depressão no mundo são altos e têm crescido exponencialmente a cada dia. Isto deve-se a diversos fatores envolvidos, mas estudos científicos (2) encontraram uma relação significativa entre os níveis de vitamina D e o quadro clínico de depressão. Pessoas com deficiência de vitamina D apresentam maior risco de desenvolvimento e manutenção do estado depressivo. A manutenção do estado depressivo é a situação onde o paciente não responde bem ao tratamento medicamentoso. Estes mesmos estudos afirmam que a suplementação de vitamina D possui um impacto positivo na redução deste estado.
2. Vitamina D e o Cancro
Estudos com culturas celulares e modelos experimentais com animais sugerem que a vitamina D pode inibir a proliferação de células cancerígenas. Foram encontradas correlações ecológicas entre deficiência de vitamina D e o cancro, como por exemplo:
- Maior incidência de cancro em países com menor exposição solar (a maior síntese de vitamina D é feita na pele através da exposição solar);
- Maior mortalidade por cancro no inverno (menor exposição celular);
- Maior mortalidade por cancro entre pessoas de pele negra (quanto mais escura a pele maior o tempo necessário para sintetizar a mesma quantidade de vitamina D (3).
3. Vitamina D e Doenças Cardiovasculares
A Hipertensão Arterial Sistêmica é uma doença crónica, de origem multifatorial, que envolve desde fatores genéticos a comportamentos ligados aos indivíduos, como hábitos alimentares, tabagismo, inatividade física, entre outros. Dentro dos hábitos alimentares, acreditava-se que uma alimentação rica em sal e ultraprocessada (as comidas prontas que encontramos nas prateleiras dos supermercados que são ricas em sódio) eram os principais vilões, mas ensaios científicos têm vindo a demonstrar que a deficiência de vitamina D também pode estar envolvida. Alguns estudos experimentais tem indicado que a deficiência de vitamina D ativa o sistema renina-angiotensina-aldosterona, o que pode levar a hipertensão arterial sistêmica (HAS)(4).
Nutrigenética e Vitamina D
No mapeamento genético focado na Nutrição é possível identificar polimorfismos genéticos que possam influenciar significativamente a redução da biodisponibilidade da vitamina D. Esta é uma informação valiosa num acompanhamento nutricional funcional, pois permite ao profissional agir preventivamente, calendarizando a realização de análises bioquímicas e prescrição de suplementação. Estas ações garantem protocolos assertivos que evitam as quedas constantes nos níveis da vitamina e garantam os melhores níveis para a promoção da saúde e prevenção da doença.
Como obtenho naturalmente a vitamina D?
Nos seres humanos, apenas 10% a 20% da vitamina D provém da dieta (4). A maior fonte está na epiderme (pele) e é obtida através da exposição solar. A grande questão é que mesmo em países com muito calor e sol, os índices de insuficiência e deficiência de vitamina D são muito altos. Outra questão importante sobre alcançar os níveis ideais de vitamina D de forma natural, é o tempo necessário para que isso aconteça, podendo levar meses ou até nem alcançar os níveis adequados, gerando riscos.
Quando devo suplementar com vitamina D
A suplementação de vitamina D deve ser acompanhada pelo seu nutricionista, principalmente se é recorrente (aquelas pessoas que suplementam frequentemente, mas mesmo assim possuem níveis baixos de vitamina D).
Um profissional na área da Nutrição, em especial Nutricionistas Funcionais, tem habilidades técnicas e científicas para construir consigo uma avaliação mais aprofundada sobre o contexto clínico, ambiental e genético que possam influenciar nessa deficiência.
Pessoalmente, já acompanhei casos em que a deficiência de vitamina D tinha relação com produtos químicos cujo contato frequente podiam influenciar na eficiência do metabolismo renal da vitamina D, por isso aconselho vivamente a que procure uma nutricionista para o ajudar especificamente no seu caso.
Referências
- Moeda. S. S. et al. Recomendações da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) para o diagnóstico e tratamento da hipovitaminose D. Arq Bras Endocrinol Metab. 2014;58/5.
- Lobão, R. K. A. M. et al. Relação da vitamina D e a depressão: revisão da literatura . Research, Society and Development, v. 11, n. 16, e484111638431, 2022 (CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v11i16.38431
- Lichtenstein, A. et.al. Vitamina D: ac¸ões extraósseas e uso racional. rev assoc med bras. 2013;59(5):495–506.
- Jorge. A. J. L, et. al. Deficiência da Vitamina D e Doenças Cardiovasculares International Journal of Cardiovascular Sciences. 2018;31(4)422-432.
- https://ods.od.nih.gov/factsheets/VitaminD-HealthProfessional/